terça-feira, 7 de julho de 2009

O Sentimento da Mesa Vazia


Quando era menor, me recordo de ver algumas produções onde se mostrava uma cena curiosa, para não dizer, triste. A novela “Éramos Seis” (SBT – 1994 – talvez a única novela produzida na emissora que deu certo), mostrava a família Lemos ao longo de duas décadas (1921 a 1942). Lá pela terceira fase, a protagonista Lola (Irene Ravache), já viúva e com todos os filhos crescidos e casados, além do mais velho já falecido, observa a mesa onde a família se reunia agora vazia. Foram-se as pessoas, ficaram-se as lembranças.

É o que eu chamo de “o sentimento da mesa vazia”.

Quem em algum momento da sua vida já não pensou em como certas coisas mudaram, como pessoas que antes frequentavam nossas vidas hoje não estão mais próximas? E de repente, aquele vazio nostálgico vai tomando conta de si...

Com a morte do Michael Jackson, me deparei hoje pensando nisso. MJ marcou a minha infância, assim como o Golias, o Rony Rios (que fazia a velha surda de A Praça é Nossa), entre tantos outros artistas que já morreram. E, mais perto, uma tia querida que vivia em casa, alguns vizinhos que marcavam presença nas festas da rua, amigos que foram pro mau caminho e não voltaram mais... todos já se foram. Entre os vivos, alguns vizinhos e amigos que eu passava quase 24 horas junto, e hoje, ou se mudaram, ou quando nos encontramos nos olhamos como estranhos (isso se alguns olham). Idéias que não batem mais. Amigos inseparáveis que hoje não se falam mais. Pessoas lindas que viraram relaxo. Pessoas sadias que hoje vegetam. Casas que não existem mais. Ruas que mudaram de cara. Turmas que não existem mais. Festas que não existem mais, ou porque não há mais os anfitriões, ou não há mais clima para isso. Um bairro que eu amava e conhecia bem, e hoje, não o conheço e nem faço mais questão de conhecer.

É claro que eu com 23 anos ainda sou jovem demais para fazer essas reflexões como um idoso como a Lola. Longe disso. Ainda há muitas pessoas que conheço há tempos e que ainda fazem parte do meu dia-a-dia, mesmo com uma freqüência diferente. E ainda me considero um ser em uma fase de busca de novos ares.

Mas, de fato, é estranho quando você percebe que algumas pessoas já se foram e que muitas coisas não são mais como antes, por mais que isso seja um processo normal. A dor da mudança é algo tão certo quanto a própria mudança, e por mais que lhe dêem conselhos do tipo “a vida é assim mesmo”, paira sempre no ar, e isso será gritante em algum momento, o sentimento de que perdeu-se alguma coisa, e que muitas vezes (como no mundo artístico), não será a mesma coisa. Ainda mais num tempo onde tudo é mais descartável.

Agora, de fato, não se pode enxergar a vida como uma constante onda de perdas, mas também, como uma importante onda de ganhos.

Danilo Moreira

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FOTO: http://3.bp.blogspot.com/_5CTikrQIuMQ/SaLdYl4UKiI/AAAAAAAAA0E/8L3JDhp7kNk/s400/PASSADO.jpg

8 comentários:

Le disse...

essa foto ae do post, parece de uma viagem de fim de tarde, hehehehe
abraço

http://liondesign.tk/

Bruno Silva disse...

Acabei de ler. Fenomenal essa de escrevermos assuntos parecidos... O meu teve como inspiração uma festa ontem, que é uma das ultimas minha com uma galera. Eu vou sair de um curso/cidade e vou pra outro.

Mas o seu está, de fato, instigante, tem muito mais reflexões...
"É claro que eu com 23 anos ainda sou jovem demais para fazer essas reflexões como um idoso como a Lola"
Eu diria a mesma frase só mudando a idade.

Valeu cara, bom te ver lá sempre.

Erich Pontoldio disse...

O saldo tem q ser posivito, mais ganhos do q perdas.
Estamos nesta vida de passagem e temos que aproveitar ao máximo momentos inesquecíveis para ficar sempre vivo na memória

Menino Dieke disse...

É verdade as coisa mudam, as pessoas mudam, quem de repente diz ser nosso amigo, amanhã já é nosso inimigo. as pessoas que nossa!! estava ali do nosso lado, contando piada, chorando com a gente e coisa e tal, e no outro dia somem e só deixam saudadee. E sabe que as vezes nós nos encontramos chorando apenas sentido a emoção da saudade. ah! vida... ah! tempo... gostei do seu post...

Luis Sapir disse...

A saudade traz a tristeza
mas também a esperança
de que vc possa resgatar esse conceito de família.

Se hoje não é possível, porque não amanhã!

Mau disse...

Sempre tenho esse sentimento e te garanto que não é nada relacionado a idade. Essa semana ainda comentei com uma amiga que, na foto da minha festa de 15 anos está cheia de gente que já se foi. Na casa de minha avó, quando éramos crianças, todos os filhos e netos comemoravam juntos o Natal, abriam presentes sob a árvore decorada... Hoje mal nos desejamos "feliz Natal". Gente vai, gente vem, a rotina muda, sei que tem que mudar. A vida é dinâmica e é isso que faz dos relacionamentos algo tão fascinante. Mas de vez em quando fico saudosista, melancólica...

Rafael Sperling disse...

Bom, isso é normal... As pessoas mudam; muita gente que era muito próxima de mim, hoje não significa nada. Não acho que seja coisa de gente velha esse sentimento que você fala.
E também dei uma olhada nos seus poemas concretistas! Muito legal o jogo com letras e cores que você fez!

Abraço

Dauri Batisti disse...

Aê, passei por aqui. Estou lendo seus escritos, rodando pelo ponto três.

Um abraço.

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