quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Vinte e oito


Uma primavera, duas fases. Na primeira, vida agitada. Rotina dividida entre estágio e faculdade. Trabalho de conclusão de curso. Amigos, barzinhos, teatros, shows, boemia, pessoas especiais, vivências, dificuldades e experiências. Etapas concluídas. Quatro anos executados com sucesso. Apaguei a luz da antiga sala. Despedi-me de tudo com lágrimas nos olhos. Tornei-me uma pessoa muito melhor.

Mudei-me para uma nova sala. Esta tem cheiro de incertezas. Em certos momentos, fede a nada. Olho para a janela. Um povo estava acordado. Juntei-me a eles. Voltei a olhar para a sala. Nada, e mais nada de novo. Olho na estante. Meu primeiro livro finalmente foi publicado. Na outra estante observo orgulhosamente o canudo que recebi na Colação de Grau. Sento no chão. Olho para o teto. Sons de recordações e cobranças se distorcem enquanto penetram nos meus ouvidos. Penso. Arrumo e completo papéis que esperam há anos por mim. Mas os que vêm do futuro são poucos.

Os trinta estão ali, no horizonte. E sinceramente, nem ligo. Sinto uma certa pressão no ar para “ter as coisas de acordo com a minha idade”, afinal, quase todos os meus amigos do colégio já construíram uma família, por exemplo. Mas tenho a minha liberdade. Ainda posso pegar uma mochila e sumir pelo mundo. Posso mesmo? Lá dentro, várias vozes dão e inventam inúmeros motivos para dizer que “Não”. Como odeio essas vozes! Mas de fato estou preso a muita coisa. Na verdade, estou no chão, refém do futuro, que não chega ou vem picotado. Não posso voar muito alto.

Vejo um cinza diante dos meus olhos. Ainda sim, lá dentro, as cores se multiplicam. Ainda vão emergir e surpreender a todos, quem sabe? Talvez novas revoluções estremeçam essa sala, ou o prédio inteiro. Inclusive construirão novos pilares. Ou, como às vezes acontece, tudo vai ficar só na promessa, e vai entrar para a pasta das dívidas internas.

Seja bem vindo, 28. Só não repare a bagunça, o cinza e o cheiro de incertezas. Ainda estou tentando arrumar essa sala com a experiência que tenho de outras primaveras.

Aos poucos, tudo vai dar certo. 


Danilo Moreira

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Foto: Ultradownloads

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