domingo, 5 de junho de 2011

Reportagem - A Trilha das Artes

Que tal acompanhá-los?

Olá leitor!

Primeiramente, peço desculpas pela demora em postar. Com o tempo escasso, o blog realmente ficou um pouco “de lado”.

Pois bem, agora, para tirar o mofo, trago hoje outra matéria interessante que também produzi para um trabalho da disciplina de Jornalismo Cultural, que foi entregue há poucos dias. A idéia era cobrir uma das atrações na Virada Cultural paulistana, realizada entre os dias 16 e 17 de abril deste ano, em vários pontos da cidade. Espero que goste, pois, é uma “viagem” interessante...

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Pessoas ao fundo observam o grupo, curiosas

Eis mais uma Virada Cultural paulistana. O evento, já presente na rotina dos paulistanos há sete anos, tem recebido cada vez mais destaque na mídia. Mostram-se as principalmente as atrações no Centro, cada vez mais lotadas. Mas agora, vamos para 24 km ao sul da cidade. Lá, um grupo de pessoas de várias idades caminha conduzida por dois homens de preto. Um toca uma sanfona. O outro guia os olhos de todos para uma experiência sensorial intensa.

Num mundo onde as pessoas cada vez têm menos tempo até mesmo para respirar, parar por alguns minutos em frente a uma obra de arte e fazer um exercício de interpretação estética é uma atividade rara, e mesmo quando é feita, pode trazer alguns equívocos. É justamente para aprimorar essa experiência que o Sesc Interlagos, localizado no extremo sul de São Paulo, apresentou nesta 7ª edição da Virada Cultural 2011, a Trilha das Artes. Trata-se de um passeio monitorado por várias obras espalhadas pela unidade.


Ao som da sanfona

Márcio e Sâmu, ao lado do quadro "Nu"

Era sábado, 16 de abril, 20 horas. No prédio da sede social, entre várias atrações simultâneas que aconteciam no local, dois homens surgem. Sâmu segura uma sanfona e Márcio exibe um sorriso no rosto, convidando aquele povo que os observava curiosos para acompanhá-los. Começava a Trilha das Artes.

“Hoje a gente vai fazer um percurso para abrir a nossa percepção”, anunciava Márcio. Segundo ele, o SESC possui uma coleção de 1200 preciosidades do chamado Acervo SESC de Arte Brasileira, iniciada há cerca de 60 anos atrás. Por ser grande a quantidade de obras no Interlagos (cerca de 300), veríamos apenas cinco delas.


"Pátio das Américas"

“Nu”, de Carlos Leão (1969), foi a primeira obra visitada. O quadro retrata uma mulher na sua intimidade, seminua, e mostra como durante muito tempo, desde a Grécia Antiga, o corpo feminino é um dos temas preferidos dos autores. Através de cada palavra pronunciada, os rapazes conduziam às pessoas ao processo de contemplação de cada detalhe, dando um tempo para que a imagem pudesse se comunicar com os olhos de todos. Minutos depois, várias pessoas já falavam o que haviam entendido dela. O momento é temperado com um poema de Vinícius de Moraes, chamado “Soneto da Mulher ao Sol”. Tudo para mostrar aos participantes como as diversas formas de arte podem dialogar entre si.

Dali, a Trilha seguiu para fora do prédio. Márcio distribuiu algumas lanternas para as crianças, adiantando que em certo momento do caminho, elas seriam essenciais. Na grama, passamos pelo “Pátio das Américas” (2005), obra em espiral feita em granito por Denise Millan e Ary Perez, e outra produção dos mesmos autores, cujo nome não foi dito, mas que parece um grande tronco amarrado a cordas de bronze. Em ambas, a interpretação dependia do tato.

Contemplando a obra

Descemos algumas escadas. A sanfona de Sâmu abria caminho. Quem via o nosso grupo (que muitas vezes parecia realmente estar em transe) se calava, e passava a nos observar. De certa forma, também nos tornamos uma obra de arte daquela Virada. Nos foi mostrado outra escultura, que era uma pedra esculpida e de onde corria água. Aqui o desafio da interpretação da arte foi bem maior, por ser um local de muito barulho. Márcio algumas vezes teve que gritar para o ouvissem. Não conseguimos nem mesmo identificar o autor da obra.

A partir daqui, a Trilha das Artes tomou uma direção mais profunda. Para ver a última obra, o grupo teve que andar bastante por uma longa rua de paralelepípedos e só parar quando os instrutores pedissem. Aos poucos, o prédio da sede social e as outras atrações da Virada ficaram para trás. O silêncio da noite e os grilos passam a tomar conta do cenário, ainda sob o som da sanfona de Sâmu.

Caminhando em meio ao breu da noite, sob a luz de lanternas

Chegamos enfim a um local escuro, ao lado da quadra de basquete do Sesc. O som agora era de uma flauta. Descemos sob a luz das lanternas que as crianças carregavam. Era também uma instalação. Troncos secos de árvores brotavam de pedras, e formavam um formato circular. Fomos convidados a entrar nela. Mais uma vez, várias interpretações. Nem as teias de aranha atrapalharam a essência do momento. Márcio explicou que ela fora colocada estrategicamente ali, pois, do lado, era a reserva da Mata Atlântica. E ela tinha sido construída por Siron Franco e as crianças do Projeto Curumim. Trava-se de um alerta para a preservação do meio ambiente, além de mostrar que qualquer pessoa poderia produzir arte.

Siron Franco: Arte e consciência ambiental

E por fim, após uma hora e dez minutos de total imersão no mundo das artes, os dois guias se despediram de todos, nos acompanhando de volta à sede social. Cada um que saiu dali teve a certeza de estar mais leve. E eram pessoas simples, boa parte moradoras da região, gente comum do nosso dia a dia. Mas, naquela noite, elas foram capazes de fazer o tempo parar, e passaram a servir exclusivamente à experiência estética proporcionada pelo passeio. Parecíamos ter acordado de um sonho gostoso. Com certeza, pelos sorrisos nos rostos de cada um, aquela trilha realmente seria inesquecível.

Elizabeth Brait é responsável pela programação de teatro, literatura, artes plásticas e visuais da unidade. Segundo ela, a ideia da Trilha surgiu em 2007 pelas mãos de Andrea Fonseca, que é instrutora do Projeto Curumim (programa que atende crianças de 7 à 12 anos com atividades educativas) e especialista em museologia. “Ela considerou importante fazer uma ação de mediação sobre as obras de arte expostas junto ao público frequentador do Sesc Interlagos”, explicou Beth, como é conhecida. Depois de vários ajustes, foi na Virada 2011 que o projeto finalmente foi posto em prática.

Sesc Interlagos na Virada 2011

Entrada do SESC Interlagos

Para quem não conhece, o Sesc Interlagos é um clube campestre de 500.000 m2, ao lado da represa Billings. Inaugurado em 1975, possui uma das maiores áreas verdes de todas as unidades da capital, tendo inclusive uma reserva da Mata Altântica.

“Esse SESC participou pela primeira vez no ano passado. Mas em termos de programação foi bem menos intenso do que agora. Essa unidade é uma das poucas que funciona até a seis da tarde. Foi muito gratificante programarmos tantas coisas para a noite e as pessoas vierem. A idéia da Virada no SESC é de acolhimento às pessoas, das famílias, um lugar de convívio, o que me parece um pouco mais difícil no centro da cidade, até porque por ser um espaço público, o perfil já é outro. E no Cento é muito mais difícil saber qual será a reação das pessoas”, contou Vanderlei Mastropaulo, responsável pela programação de cinema e vídeo, multimídia e circo. Segundo ele, só no dia da Trilha, o SESC recebeu cerca de 5400 pessoas, número que superou as expectativas.

Mas para quem perdeu a Trilha das Artes, fique atento! A unidade estuda promover novas edições da Trilha, até mesmo em épocas fora da Virada. Para mais informações, acesse http://www.sescsp.org.br. O endereço é a Avenida Manuel Alves Soares, 1100, Parque Colonial, perto da estação Primavera-Interlagos da CPTM.

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Este trabalho da Virada Cultural rendeu um fruto importante. Todas as reportagens produzidas pela minha sala estão reunidas neste novo blog. Vale a pena conferir.

Até mais!

Danilo Moreira

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FOTOS: Danilo Moreira

3 comentários:

Hugo de Oliveira disse...

Ótima cobertura.
Ano que vem quero participar da virada cultural.

abraços

Naara disse...

Nossa, não sabia desse lado da virada cultural. Todos os anos fico fascinada acompanhando daqui (Recife) os eventos, principalmente os musicais. Mas esse ar filosófico, artístisco, natural, de transcendencia ao espirito inquieto de São Paulo... me surpreendeu.

Ótima reportagem!

Rodrigo disse...

eaí Danilo!
eu não tinha dúvidas de que vc faria um excelente trabalho!!!

não fui à Virada Cultural nesse ano, então, fica difícil avaliar o conteúdo como um todo... Mas sou sincero qdo digo que esse foi o melhor material que eu li sobre a Virada Cultural de 2011!

Parabéns! De verdade!
Abraço!

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