É estranho sentir esse vazio. Digo isso porque já era algo
previsto. Agora, meus dias se resumem a expectativas. Achava que sentiria mais
falta daquela terra acadêmica que me proporcionou tanto aprendizado. Fora os
momentos afins, regados à cerveja, amigos, cultura e baladas. Já senti o coração
doer, já me acostumei a não ter mais nada daquilo da mesma forma. Agora estou
aqui, nesse novo “terreno”.
Fico deitado em meio ao silêncio. Penso, repenso, concluo. A
vida é muito curta para pensar demais. E tão frágil para fazer tudo sem pensar.
Do que estou falando? Estou aqui há horas sem ter o que fazer, esperando ligações,
a checar e-mails em busca de resposta, quebrando a cabeça ao tentar escrever
alguma coisa. Já vivi essa fase antes. Virar uma página, viver em uma fase
diferente, apostar em novos caminhos e esperar a resposta. Mudança de cenário.
Dias que se arrastam num intenso silêncio e ócio que parece às vezes querer me
empurrar diretamente para a cama. Ou para baixo. Talvez os dois ao mesmo tempo.
Da outra vez, eu era um jovem de 18 anos. Eu não tinha
computador, blog, redes sociais, e nem celular. Se quisesse a companhia dos
amigos distantes, que ligasse para eles. Em compensação, me aventurei por
várias experiências diferentes. Escrevi manualmente um roteiro de um seriado de
televisão com 770 páginas. E muitas vezes fora do meu quarto, coisa inédita até
então. Conheci lugares da cidade que sequer tinha imaginado que existiam. Senti
a liberdade de caminhar sem rumo, contemplei o tempo parado, os momentos de
refletir o que eu queria para a minha vida, qual profissão seguir, o que
estudar, o que fazer.
Agora aos 27 anos é diferente. E normal. Não sinto mais
aquela necessidade de definir caminhos, preciso apenas seguir em frente. Ainda
estou digitando aquele mesmo roteiro – a passos bem lentos, quando tenho
paciência. Caminho pelas ruas rumo a algum compromisso, ou a fim de ir logo
para casa. Cansei de teorias. Preciso de doses de pragmatismo. Sinto-me sereno,
capaz de controlar melhor as minhas ações. Falo com meus amigos pela internet, de vez em
quando os vejo pessoalmente, mas não sofro de solidão. Amores, pegações, isso
nunca foi o meu forte mesmo. Mas ainda sim, tem tomado os seus rumos...
Mas esse vazio estranho... Ah! É o mesmo. Talvez seja ainda
mais profundo. É como se um solo de piano tocasse a todo tempo na minha cabeça.
Sinto como se caminhasse em meio a uma terra seca, mas fria. Planto sementes.
Sento e espero aparecer alguma coisa. Enquanto isso carrego-me no colo como um
troféu e um fardo, amando os dois do mesmo jeito. E aquele tipo de silêncio
ouvido somente na sala de reflexões me acompanha como uma capa pendurada nos
meus ombros. Mas me sinto elegante com ela.
Até lá, continuo no delírio. Mas é bom. Pelo menos sinto
novamente o sangue correr nas minhas veias, o meu peito respirando e tendo
vontades. Me sinto humano. Live. Tenho certeza que muitas pessoas gostariam de
ter esse tempo para também se sentir gente. Por isso, apesar de vazio, tenho
que admitir que o meu coração nesta terra nova está mais em paz.
Que venham os tijolos.
Danilo Moreira
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Foto: http://jhmedeiros23.blogspot.com.br/2013/02/peregrino.html
3 comentários:
As vezes esse vazio não é a falta de algo, mas o eterno ímpeto do ser humano de continuar buscando sempre o melhor pra si. A força motriz que nos impulsiona. Quem se sente completo e realizado, mais nada há para fazer nessa vida além de esperar a morte! ;)
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http://guildacop.blogspot.com.br/2013/03/peregrino-do-desejo.html
danilo vc escreve muito bem, parabens
adorei seu texto e concordo plenamente que venham os tijolos
Acho que esse vazio é natural. Acontece sempre que concluímos algo nos preparamos ou não para trilhar novos caminhos. No fim das contas, tudo é válido. O que somos é a mistura das experiências (boas e ruins) e das expectativas.
Texto lindo!
Beijos.
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