domingo, 28 de março de 2010

Série Pontos e Pontos - Reticências

Olá leitor!

Como havia dito no post anterior, pode ocorrer de um mesmo tema acabar sendo escolhido e escrito por vários autores. O legal disso é que acaba produzindo textos e visões diferentes.

Este texto aqui é mais um exemplo disso...

E o tema é: Ponto de Equilíbrio


Reticências



Era o último dia de verão daquele ano. O sol amanheceu tímido, escondido na névoa que imitava nuvens lá no horizonte.

Às oito horas da manhã, ele já iluminava as copas dos pinheiros gigantes que cercavam uma pequena casa de madeira no meio do nada. Seu calor começava a secar o orvalho sobre a grama e seus raios já entravam pela janela.

Foram eles que acordaram Regina.

Regina acordou devagar, cheia de preguiça. Sentia a seda de sua camisola roçar em seu corpo e nos lençóis brancos de algodão, macios. Demorou para abrir os olhos e espreguiçou-se demoradamente.

Regina estava em uma cama de casal que ficava de frente para a janela do quarto, virada para o leste. O quarto era todo rústico e bem arrumado. Havia armários, um conjunto de escrivaninha e cadeira, poltronas confortáveis e até um chapeleiro junto com espelho. Lá, roupas estavam penduradas.

Aquilo seria o ponto de equilíbrio para ela entre seu bem estar e sua consciência. Mas faltava algo.

Regina sentou-se na beirada da cama, observando a janela. Começou a refletir e, logo, aquela sensação de “nada” tomou conta dela. Um vazio. Mais um.

Era domingo e na segunda já teria que retomar seu cotidiano. Trabalho, supermercado, estudos, academia. Ela sabia que não podia reclamar de nada, pois tinha um bom emprego, bons amigos e uma vida saudável. Mas ainda assim algo faltava.

Apesar dessa constância de sua vida, os caminhos dela eram reticências. Pontos aqui e ali que se perdiam a cada passo. Mesmo com sua vida construída, muitas vezes, Regina não sabia para onde ir. E os pontos continuavam a se perder com ela.

Talvez, fosse só aquela sensação ruim de domingo. Aquela preparação psicológica para a segunda-feira que estava por vir. Mas Regina realmente achava que algo faltava. Um buraco no meio de um quebra-cabeça. A peça para um ponto de equilíbrio em sua vida.

Regina estava tão absorta nesses pensamentos que nem percebeu a porta do quarto se abrindo.

- Rê? – chamou o homem que acabara de entrar no quarto.

- Bom dia, amor! – Regina virou-se para olhá-lo. Danilo trazia consigo uma bandeja de café da manhã.

- Bom dia! Quer o café na cama?

- Claro!

Ambos sentaram-se na cama. Danilo sorriu e colocou a bandeja entre eles. Nela, havia torradas, manteiga, geléia, ovos, frios e suco. Havia também uma pequena caixinha que chamou a atenção de Regina. Ela olhou para Danilo. Não havia reparado o quanto ele parecia apreensivo.

- Rê... Queria que você soubesse que eu gostei muito desse nosso fim de semana juntos aqui no sítio. Aliás, queria que você soubesse que eu gosto muito de qualquer momento que eu passo com você.

Danilo pegou a pequena caixa azul e a abriu.

Naquele momento, o vazio de Regina foi preenchido. E de repente, as reticências deixaram de ser algo que faltava.

O vazio deu lugar a planos. As reticências, que antes eram pontos perdidos no caminho de Regina, tornaram-se um algo a mais que estava por vir.

Depois daquele domingo, Regina descobriu o que seria o ponto de equilíbrio da sua vida. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.


Rodrigo Yoshizumi


“Um estudante de comunicação perdido no mundo! ‘Sonhador em tempo integral’”. Rodrigo Yoshizumi é meu conterrâneo paulistano e autor do blog Espaço em Branco. Quando leio esse blog tenho a impressão nítida de estar com ele, sentado em um banco qualquer, conversando algum assunto em particular, como se o conhecesse há anos. Possui mesmo um jeito cativante de escrever e tocar o leitor. Obrigado Rodrigo pela colaboração, pelo carinho, e pela atenção ao Ponto Três. Que seus “sidewalk” continue sendo tão aberto como a sua mente, e tão grande quanto o tamanho dos seus sonhos.


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FOTO: http://julianaduque.files.wordpress.com/2009/02/reticencias.jpg

2 comentários:

Vitoria Viana disse...

adorei seu texto,vc escreve super bem!

Marcelo A. disse...

Puxa, o Rodrigo escreve realmente muito bem. Acho que ainda não o conhecia. Vou dar uma passada lá no Espaço em Branco, pra conhecer melhor. E, pelo visto, ele ainda te fez uma homenagem, batizando um personagem de Danilo, né?

Abração! E perdão pelo sumiço! Eu aindei um tempo sem net... já até expliquei no blog!

Forte abraço!

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