domingo, 13 de dezembro de 2009

Imoralidades - Parte Final


Narrador fictício.

- Tudo bem, senhor. – disse o rapaz.

– Vou fingir que acredito no seu papo. Mas fique tranqüilo que nós não queremos nos exibir, afinal, estamos só nós dois aqui apenas curtindo o momento. Não queremos público, assim como também não seríamos públicos de ninguém que fizesse o mesmo.


- Vocês podem ser presos por atentado ao pudor, sabiam? Ou acham que estão em Amsterdan?

- Não não, eu sei. Mas logo aqui, desde quando há seguranças? Reconheço que estamos agindo contra a lei, mas eu não ligo. Se seguirmos tudo que a lei nos manda, não vivemos, pois seríamos os únicos a seguir essas leis. Entende: seguindo as leis, mas nos sentindo mal.

- Espere garoto, não é assim que as coisas funcionam. Se a maioria não segue as leis, vocês têm que segui-las, caso contrário, não terão personalidade, serão verdadeiros maria-vai-com-as-outras.

- Não. – respondeu ele, sorrindo. – Pois se essas leis de pudor não sigo, o faço em prol dos meus desejos sexuais. Não pago impostos para ver o Governo controlando os meus desejos sexuais. Isso é algo muito particular, que ninguém deve se meter, entendeu? Mas tudo bem, eu peço desculpas se lhe provoquei constrangimento. Sou bom rapaz e a minha namorada também. A gente estuda, trabalha, ajuda quem precisa, não mexe nem cobiça nada de ninguém, até as minhas camisinhas eu compro com meu dinheiro ao invés de pegar de graça para o governo, deixando para quem não pode comprá-las. Não usamos drogas, nunca tivemos passagem pela polícia, defendemos a paz, a natureza, enfim, o senhor me vê e percebe que tenho educação e utilizo muito bem a língua portuguesa. Não há razão para ter vergonha de mim, nem dos meus genitais, e nem os da minha namorada. Deixe-nos viver a nossa vida de acordo com o que acreditamos, que o senhor pode ter certeza de que seremos pessoas mais felizes.

- Mas... vocês não acham que estão desrespeitando aquilo que eu acredito, a minha noção de moral?

- De fato, reconheço, estamos, mas não chamamos o senhor aqui. O senhor é que nos viu transando e veio de livre e espontânea vontade nos repreender, nos mostrando aquilo que o senhor acha certo. Nós poderíamos ter pegado as nossas roupas e fugido como animais, ou reagido com agressividade já que não tem mais ninguém aqui. Mas, não, como disse, eu sou do bem, e respeito a sua opinião. Só estou expondo e pedindo que respeite a nossa.

- E não queremos também ser exemplo de moral pra ninguém. – disse a garota. – Mas caso o senhor queira levar alguma lição daqui, pelo menos, pense que nós preferimos ser assim do que ser hipócritas moralistas, a fazer coisas imorais debaixo dos panos e de máscaras, sem paz de espírito, devendo à nossa própria consciência.


Não consegui mais falar. Achei que aquela conversa duraria tempo demais, e eu já estava atrasado para ir trabalhar.


- Bem... se é assim, façam o que achar melhor, mas lembrem-se: toda felicidade tem um preço, e de uma forma ou de outra, a gente tem que pagar. Boa sorte à vocês.


- Muito obrigado! E tenha um excelente dia! – respondeu o garoto, sorridente.


Deixei-os com sorrisos nos rostos, enquanto eu caminhava meio avoado. O casal voltou a transar, ali mesmo, pouco se importando com algumas pessoas que passavam e viam a cena, horrorizadas.
Ainda sim não concordava com aquilo. Eu que já tinha as minhas convicções morais não precisava me chocar com as deles. Mas de fato, uma coisa tenho que reconhecer. Eles foram sinceros comigo. Poderiam ter me agredido, fugido como dois ratos, ou inventado alguma desculpa esfarrapada pra dizer que não era nada daquilo que eu estava vendo, sendo hipócritas. Mas não, simpaticamente, o rapaz me explicou por que estavam ali, desprendido de preconceitos, pudor, e demonstrando ter uma leveza na consciência que me fez refletir se a minha conduta em ter escondido a eles os meus podres da adolescência teria sido certo.

Mas, de qualquer forma, independente do que será minha vida daqui pra frente, valeu pela reflexão.


Danilo Moreira

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FOTO: http://matheusmathias.files.wordpress.com/2008/10/etica.jpg

3 comentários:

Marcelo A. disse...

Nossa, Danilo, fiquei sem palavras. Acho que você foi profundo demais nesse post. Eu me enxergo dos dois lados. Entendo o posicionamento do rapaz, mas não sairia transando em pleno ar livre. Agora, ficou a dúvida aqui... e você, o que pensa disso tudo?!

Me responde, vai...

Abração e parabéns! Ficou show!

Cristiano Contreiras disse...

Seu trabalho neste blog sempre conceitual, parabéns!

Wagner de Moraes = Pensando! disse...

Cara, muito interessante! Pena ter conhecido esse blog somente agora, por meio do Gilson, sabe quem é? do Filosofamos! Sobre o texto... concordo e não concordo com o garoto e nem mesmo com a passividade do narrador fictício. Motivo: os erros dos outros não consertam os meus. Se sei que é proibido fazer uma ou outra coisa e faço... faço por que realmente quero fazer e não porque outros fazem! Sobre o cara, talvez ele devesse contar sua história da adolescência... Ah, outra coisa... acho que sexo é algo tão pessoal... Putz não sou politicamente correto, n mesmo! Mas o que faço com a pessoa que estou e digo, e... é meu, n quero que ninguém veja!
Enfim, o texto é muito bom! Como os outros que to lendo, pode deixar, já me tornei seguidor!
abraços e continue escrevendo... ah, também fiz uma visita ao outro blog... abraços!

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