segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Alá no Gueto

“Cinco vezes ao dia, os olhos ultrapassam o concreto de ruas irregulares, carentes de esgoto e de cidadania, e buscam Meca, no outro lado do mundo. É longe e, para a maioria dos brasileiros, exótico. Para homens como Honerê, Malik e Sharif, é o mais perto que conseguiram chegar de si mesmos. Eles já foram Carlos, Paulo e Ridson. Converteram-se ao islã e forjaram uma nova identidade. São pobres, são negros e, agora, são muçulmanos. Quando buscam o coração islâmico do mundo com a mente, acreditam que o Alcorão é a resposta para o que definem como um projeto de extermínio da juventude afro-brasileira: nas mãos da polícia, na guerra do tráfico, na falta de acesso à educação e à saúde. Homens como eles têm divulgado o islã nas periferias do país, especialmente em São Paulo, como instrumento de transformação política. E preparam-se para levar a mensagem do profeta Maomé aos presos nas cadeias. Ao cravar a bandeira do islã no alto da laje, vislumbram um estado muçulmano no horizonte do Brasil. E, ao explicar sua escolha, repetem uma frase com o queixo contraído e o orgulho no olhar: ‘Um muçulmano só baixa a cabeça para Alá – e para mais ninguém’.”

Fonte: site Revista Época


É por isso que eu sou da opinião de que você deve pensar duas vezes antes de jogar algo fora, pois no futuro, isso pode lhe ser útil. Se você for blogueiro então, aí sim é que eu te recomendo este conselho.

Estava eu hoje a arrumar a minha cama, quando ao olhar para um amontoado de revistas, encontro uma Època de fevereiro desse ano, que eu tinha ganhado de brinde daqueles promotores de vendas. Dentre as várias chamadas, uma em tamanho minúsculo me chamou a atenção. Falava de um fenômeno que estava ocorrendo principalmente na periferia de São Paulo.

Ao abrir na matéria, vejo um rapaz bem típico da periferia, com pose e gestos de “mano”, adepto da cultura hip hop, mas com aquele chapéu e a barba que os mulçumanos usam. Seu antigo nome era Carlos Soares Correia, mas após se converter ao islã, passou a se chamar Honerê Al-Amin Oaqd. Hip hop e religião muçulmana... que mistura!

A matéria é extensa. Mostra que a origem dessa identificação dos negros brasi-leiros atuais com o islã remonta um evento pouco retratado nos livros de história, que foi a revolta dos malês (malês significa muçulmano na língua iorubá) na Salvador de 1835, que foi a revolta de escravos urbanos mais importante da história brasileira. Aliado a isso, veio a história de Malcom X (ativista americano), retratado principalmente no filme de Spike Lee em 1992, e principalmente, após do 11 de setembro, que levou muitas pessoas a conhecerem o islamismo.

Segundo alguns entrevistados, é uma forma de recuperar uma identidade reprimida pela escravidão ou ter uma identidade da qual possam se orgulhar. Um dos entrevistados, Ridson Mariano da Paixão, de 25 anos, justifica também essa conversão pelo fato de que outras religiões, como a católica, pregam uma pacificidade que não caberia à sua realidade. Conforme ele diz, “me incomodava aquela história de Cristo perdoar tudo. Eu já tinha apanhado de polícia pra cacete. E sempre pensava em polícia, porque o tapa na cara é literal. Então, o dia em que tiver uma necessidade de conflito, vou ter de virar o outro lado da cara?”. Ele afirma que não possui esse espírito pacifico e que se identifica mais com Malcom X, que descobre que no islã nos temos o direito de nos defender.

Na verdade esse movimento existe há mais de trinta anos, surgida nas mãos de pioneiros, como por exemplo, seu Malma, que fundou a Mesquita Muçulmana Afro-Brasileira em 1974, ou como a Dona Ilma, que nasceu em um quilombo e é convertida há mais de vinte anos. Mas nem todos dessas gerações mais antigas são favoráveis a essa mistura de hip hop e o islã, como a própria Dona Ilma diz na matéria: “O islã sempre trouxe cidadania para as minorias. E as periferias são as senzalas de hoje. Mas as novas gerações têm muito punho ainda, tenho medo que acabem sendo segregacionistas”, e que “Não precisamos mais de um discurso de raça, precisamos de cidadania. Acredito, porém, que é um ritual de passagem. Quando me converti, também era muito radical. Vamos deixar eles gritarem um pouco.”

Confesso que entendo muito pouco dessas religiões do mundo árabe, mas me chama a atenção essa necessidade de identificação dessa parcela da periferia e da forma rápida como ela está se propagando pelos quatro cantos do Brasil. Quem lê a matéria à principio pode pensar que esse movimento é algo fechado apenas aos negros, mas não, na própria matéria, vários lideres e pessoas convertidas deixam bem claro que é algo aberto para qualquer pessoa. Ou então, que estamos “criando novos Bin Ladens”, conforme eu vi depois no site, em vários comentários arrogantes e até preconceituosos.

Não. Apesar de eu ter minhas criticas em relação à luta racial e a religião (mas isso é assunto pra outras postagens), e não concordar tanto com certos pensamentos que na minha opinião podem vir a criar deturpações justificando o uso da violência ainda que como defesa (que no fim das contas sempre gera mais violência) percebi que a intenção na verdade é a de buscar uma identidade cultural e um conforto espiritual que os ajude a combater a desigualdade racial que os acompanha todos os dias, desde que nasce-ram, e que infelizmente ainda continua a produzir os machucados dentro da nossa sociedade.

E você, o que acha dessa mistura entre cultura da periferia e o islã?

A matéria completa você vê aqui, no site da revista Época:

Ou, algo mais resumido, aqui, no site do Estadão:

Bom resto de feriado a todos!

Danilo Moreira


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5 comentários:

Hugo de Oliveira disse...

Eu tenho essa revista aqui em casa. Bom eu aprendi um pouco sobre religiões do mundo árabe no livro - O Livreiro de Cabul - bem interessante ele.
Sobre essa mistura...acho bom.


Abraços


Hugo

Bruno Silva disse...

O que seria de minha vida tédiosa de aspirante a advogado, se eu não passasse por esse blog maravilhoso e lesse o que é uma matéria jornalística contundente?! A respeito do tema, sempre me envolvo em discurssoes como essa a revelia de minha vontade. Eu tenho pra mim, que nenhuma religião que incite a violência ou o desrespeito pode ser considerada uma boa religião. O homem tem que reconhecer o seu amor pelo próximo... e isso deveria ser verdade, em todas as religiões, crencas. Enfim, onde não há amor, não pode haver devoção.

Marcelo A. disse...

Interessantíssima essa matéria... E o post, claro!

Noutro dia conversava com um amigo sobre esse lance de religião, pobreza, preconceito. Eu trabalho numa região bem carente e o que eu vejo mais e mais, são igrejas evangélicas, pipocando aqui e ali. Quando eu falo em igrejas evangélicas, não me refiro às tradicionais. Falo dessas "portinhas" que as pessoas abrem sem critério. É público e notório o papel que a religião desempenha na vida dessas pessoas. Agora, esse lance do Islã no Gueto... Putz, isso dá pano pra manga! Mas, faz sentido. Não é a toa que o Islamismo é a religião que mais vem crescendo no mundo...

Ah, Danilo, tem post novo lá no "Diz", falando sobre o recall dos políticos. Mas há um post antigo, que gostaria de sua opinião também. Dá uma conferida, por favor, http://marcelo-antunes.blogspot.com/2009/10/mermao.html , e depois me conta o que achou...

Abração e sucesso, meu velho!

Diego Moretto disse...

Mesmo não sendo adepto, acredito que qualquer religião sirva para trazer uma comunhão e um possível conforto diante vários problemas que uma vida na periferia traz. No entanto, tenho bastante preconceitos diante uma adoção da religião muçulmana. Talvez seja vergonhoso dizer isso, claro, mas exponho que, assim como o Corão é mal interpretado por xiitas, causando verdadeiros desastres, isso pode acontecer por aqui tbm. Mas caso não, como eu disse, a adoção de uma religião é sempre bem vinda, contanto q não traga prejuízos morais e financeiros, como algumas que conhecemos.

Pois é meu caro, estamos de volta. Estou enfrentando um grande problema sem internet mas estou muito animado com essa minha volta, e ficarei mais presente com certeza. E se sinta vangloriado, voces, amigos virtuais, são grandes inspirações para mim.
GRande abraço!

Inez disse...

Acho muito perigoso essa mistura de islã com hip hop. O Islaminismo é muito radical o que levado a jovens da periferia pode provocar um desastre.
Radicalismo não é bom para nada.

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