Nada como levar um grande soco, daqueles que fazem você
cair com a boca no concreto. Foi essa a sensação generalizada após o jogo de
ontem (8/7), em que a seleção brasileira perdeu de 7 a 1 para a Alemanha. E,
dessa forma, chega ao fim a anestesia e o sonho de ser o campeão da chamada “Copa
das Copas”.
Há dois meses, o assunto Copa do Mundo no Brasil
era tratado com extremo pessimismo, em meio a greves e protestos em diversas
regiões do País. Muitos estufavam o peito e diziam que iam torcer contra a
seleção, ou que no máximo não sentiam ânimo para acompanhar os jogos. Eu mesmo
brincava que caso o Brasil fosse eliminado, era bem provável que as pessoas
sairiam às ruas para comemorar.
E então, começou a competição e vimos aquele país
acinzentado por um pessimismo quase paranoico (que confesso, também fiz parte)
se colorir de verde e amarelo, ansioso para curtir os feriados ou sair mais
cedo do trabalho para assistir aos jogos, conhecer os gringos e fazer aquela
bagunça com os amigos e a família, e é claro, torcer pela seleção. Diferente de
alguns meses antes, ser a favor do time agora não era mais uma “heresia”, mas
sim uma atitude patriota. E então, muitos foram para rua (quando não conseguiam
entrar nos bares lotados), desta vez para curtir o jogo.
E agora, depois da derrota de ontem, não se fala em
outra coisa. Fazem piadas, no melhor estilo brasileiro de rir das próprias
tragédias (assim como eu via as pessoas fazerem ao se espremerem nas escadas do
Terminal Grajaú, horas antes dos jogos do Brasil), procuram-se culpados, renasce
o tal espírito revolucionário da moda, e alguns que torceram contra vomitam
frases como “humilhação mesmo é o que o povo sofre todo dia, sem saúde e
educação...”. Às vezes acho que existem muitas pessoas bipolares no Brasil,
inclusive a própria grande imprensa, que ovaciona a seleção em um dia, e no
outro, a nocauteia, com frases de impacto e adjetivos que mais lembram uma
novela mexicana.
Não tenho vergonha em dizer que torci pela seleção,
mesmo criticando os gastos excessivos da Copa. Não vejo sentido em descontar
neles algo que envolve pessoas que estão em um nível bem superior. Estes são os
verdadeiros alvos. Os jogadores estão fazendo o seu trabalho. É a mesma lógica
de quem acredita que agredir um jornalista da Globo vai atingir a manipulação
da mídia.
A seleção teve um péssimo desempenho neste último
jogo e sofrerá as consequências disso por anos. Já quem apenas foi um
espectador sofrerá apenas com o momento, mas será passageiro. Voltaremos às
nossas rotinas normais, aos mesmos problemas sociais de todos os anos, e assim
a vida seguirá. É por isso que o jornalista Leonardo Sakamoto afirma em seu
blog que não devemos ficar tristes por muito tempo. Estamos de ressaca de um
evento que, graças à mídia, foi tratado como algo gigantesco, de suma
importância, e que de uma hora para outra despedaçou-se em piadas, ofensas e
frustração. É apenas futebol. A moral de um país vai muito além de um evento
esportivo.
Perdemos a Copa, mas tenho certeza que para muitas
pessoas, assim como eu, o evento trouxe experiências inesquecíveis: ver os
jogos com os amigos, as situações engraçadas e inusitadas, torcer, vibrar e se
emocionar com gente que você nunca viu na vida e ter contato com pessoas de outras
culturas e nacionalidades. Quem vivenciou tudo isso, certamente terá histórias
para contar e independentemente se a seleção ganhou ou não, serão essas esses
momentos especiais que carregarão para o resto da vida.
É o fim de um ciclo que com protestos ou não, aconteceu.
E ponto. O fato é que com título ou não, continuamos a ser o mesmo país e com
os mesmos problemas. O importante é que quem quis se divertir, se divertiu. Quem
não quis, está se divertindo agora vendo a decepção dos outros. Mas, logo,
todos voltarão definitivamente às suas rotinas normais.
Danilo Moreira
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Foto: Tribuna do Ceará
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