Duas cidades do interior paulista adotaram uma espécie de "toque de recolher" para crianças e adolescentes sob a justificativa de tentar reduzir a criminalidade. Em Ilha Solteira e Itapura, no noroeste do Estado, menores de 13 anos podem ficar na rua até as 20h30. Adolescentes de 13 e 14 anos, até as 22h. Para quem tem 16 e 17 anos, o limite é 23h. Menores de 15 anos estão proibidos de frequentar Lan houses.
(...)
A medida foi baseada em atitude parecida determinada por um juiz de Fernandópolis (553 km de SP).
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u554311.shtml
Nesta semana veio à mídia uma polêmica envolvendo o tal toque de recolher imposto pelas prefeituras de Fernandópolis e Ilha Solteira. O que era de se esperar, muitos adolescentes abominaram a decisão do juiz, enquanto seus pais adoraram a idéia.
- Ah, mas a minha filha não me escuta, é cabeça dura!
- Tem que fazer isso mesmo. Essa molecada não tem juízo!
Do outro lado, uma adolescente questiona, conforme mostrado no Fantástico:
- "Se é pra reduzir a criminalidade, e os jovens que não estão fazendo nada de errado, tem que pagar pelos outros?"
Ricardo Cabezon, presidente da comissão de direitos da criança e do adolescente da OAB de São Paulo, diz, no mesmo programa:
- “Isso fere a constituição. (...) Liberdade de ir e vir, liberdade de educar, liberdade de poder escolher entre o que é certo e o que é errado. (...)Viver na democracia é também oferecer às pessoas a oportunidade de elas entenderem o peso dos seus atos. Se o jovem quis ficar acordado à noite e ele passar o outro dia com sono, ele tem que entender que isso não é bom para ele.”
Opiniões contra ou a favor fazem parte de medidas polêmicas da justiça, como essa.
A questão é, chegamos a um ponto em que a justiça precisa determinar as horas que os adolescentes voltam para casa, tarefa que normalmente caberia aos pais. Antigamente, mesmo um garoto de 17 anos tremia todo só de perceber que seu pai o olhava com um ar mais severo. Hoje, vemos casos cada vez mais grotescos de filhos que até matam seus pais por motivos banais.
Na escola, se um aluno bate em outro, logo, o pai da criança vítima irá culpar a escola por permitir que ocorresse essa agressão. Os pais do agressor também põem a culpa na escola: “Eu coloquei o meu filho na escola pra vocês ensinarem coisas úteis a ele, não a bater nos outros.” A culpa, em suma, é sempre da escola. Não sei o que houve na cabeça de muitos pais hoje que jogam a responsabilidade de seus filhos para o sistema educar, sendo que eles mesmos sabem que, além de não ser propriamente essa a função, o sistema não cumpre os seus próprios deveres (como proporcionar educação de qualidade, punição dos crimes, etc).
Até concordo com medidas como essa no sentido de impor limites àqueles adolescentes que já o perderam (ou, dependendo da educação, sequer chegaram a conhecer). De certa forma, no sentido de combater a criminalidade, tem dado bons resultados (como em Fernandópolis). Mas, por outro lado, ao meu ver, essa medida reforça o pensamento coletivo de que o sistema é quem deve educar os nossos filhos, pois os pais mesmo, uma boa parte, assumem não saber como lidar com eles (talvez por falta de tempo por causa do trabalho, talvez por falta mesmo de preparo para serem pais).
Por um filho no mundo é mais do que uma questão de amor incondicional: é uma questão de contribuir com a sociedade produzindo bons indivíduos, ao invés de viver reclamando de seus defeitos e jogando a culpa no Estado, na Justiça, na mídia e nas escolas pela suas incapacidades de suprir um dever que os pais mesmos não se mostram competentes para cumprir.
Sim. Aqui, o puxão de orelha vai para esses pais.
Danilo Moreira
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FOTO: http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2009/04/278_1135-charge11042009.jpg
Um comentário:
Eu achei um atentado a democracia brasileira este toque de recolher. Acredito que funcione por partes, mas não acho que uma intimação como essa fará com que pivetes não façam o que gostariam. Na verdade, acho que será bem mais excitante para eles, pois tenho certeza que não terá policiais suficientes nas ruas para verificar se um adolscente esta fora de casa. E outra, vai virar bagunça. Pois há compromissos, como Igreja, em que o horário de termino é tarde. Realmente não acho uma idéia glamourosa. Parece mais um solução rápida e impensada, que no futuro, trará consequências ruins.
Brother, te indiquei a um Meme e espero que vc goste. Grande abraço!
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