sexta-feira, 26 de abril de 2013

Delírio - A pedra



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eu posso ir mais longe!

posso ir mais longe!!

ir mais longe!

mais longe!!!

LONGE!!!!

LONGE!!!!!

LONGEEEEEE!!!!!!

LONGEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!

LONGEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!

...

Danilo Moreira,
fevereiro de 2009

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FOTO: Freepik


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Bom moço on-line



Mauricio sentou na frente do seu notebook. Novo dia, nova esperança. Abriu o site de empregos. Nada. Dias se passavam, e os primeiros currículos que tinha mandado há um mês pareciam ter entrado no limbo. Nenhum retorno.

O Comunicador recém-formado entrou na sua conta no Facebook. Várias marcações, a maioria com memes ou fotos. Fuçou em sua timeline. Um de seus amigos tinha compartilhado uma matéria sobre o uso das mídias sociais. Ah, as mídias sociais! Na faculdade, o que mais se ouvia falar eram delas. “Cuide de sua imagem nas mídias sociais!” “Evite postar informações comprometedoras!”. Desde então, Maurício pensava melhor em tudo que postava. Sabia também que era cada vez mais comum empresas pedirem os perfis dos candidatos para avaliar a personalidade. Mas o rapaz sempre se considerou discreto. Postava uma notícia ou outra, uma bobagem aqui ou ali, mas nada em excesso. Pensava como alguns de seus amigos, geralmente mais novos, conseguiam publicar coisas tão bizarras e não sentir vergonha disso.

Passou os olhos em um meme que foi marcado no dia anterior. Sorriu. Falava sobre a gafe de uma repórter famosa. A cena já tinha virado piada com várias versões. Pensou em deletar os comentários maldosos. Mas, seus amigos poderiam ficar chateados. A conversa tinha sido tão boa. Riu sozinho por vários minutos. Mas tinha enviado currículo para uma vaga naquele veículo. Poderia lhe trazer problemas.  

Olhou também para a foto do seu perfil. Gostava mais daquela em que fazia cara de mau enquanto segurava uma garrafa de whisky. Mas decidiu trocar por uma em que vestia terno e mostrava um sorriso simpático. Tinha mais fotos comprometedoras?

Fuçou nos seus álbuns. Fotos de baladas. Algumas pesadas. Poses engraçadas, caretas, descabelado, bêbado, tatuagens à mostra, brincos e piercing na orelha, pernas moles, escorado nos amigos também alterados. Concluiu que aquilo era péssimo para a sua imagem profissional. Pensou se esse era o motivo por ainda não ter sido contratado. Decidido, apagou as fotos e as marcações. “Pena. Tanta gente curtiu...”.

Ouviu o barulho de uma notificação. Quando foi ver, um amigo tinha o marcado em um vídeo em que mulheres descabeladas trocavam socos na rua. Decidiu ignorar. Minutos depois, outro aviso. Marcaram-no na imagem de um gordo que exibia roupas íntimas femininas com a bandeira de um time adversário. Retirou a marcação da foto.

Já estava irritado. Como era possível apresentar um perfil daquele, cheio de futilidades, com amigos que pareciam não ter conteúdo? Ele precisava mostrar que tinha diferencial, que era um profissional culto e que não perdia seu tempo com assuntos fúteis. Pesquisou dicas de postura na internet. Toda notícia das editorias de política, economia, negócios e tecnologia, logo era compartilhada. Passou a postar frases motivacionais e nada sobre sua vida pessoal. Seus amigos lhe marcavam em conversas, em fotos de baladas e farras com amigos. Preocupado, ia lá e desmarcava. Um deles o chamou via inbox perguntando “se tinha virado intelectual”:

“Não. Eu apenas tenho uma imagem profissional a zelar.”

“Mas isso é ridículo, cara! Você não faz nada que ninguém não faça. E o perfil é seu, posta o que quiser.”

“Não é assim que as empresas pensam. Essas coisas podem deixar más impressões sobre mim. Desculpe, mas não sou mais um moleque para postar todas as porcarias que vejo e eu preciso trabalhar. Abraço!”

Aboliu as abreviações. Se precisasse, apagava e reescrevia o post. Excluiu palavrões e frases em caixa alta. “Pronto!”, exclamou, satisfeito. “Agora esse é um perfil digno de um profissional como eu”.

No dia seguinte, respirou fundo. Nada de vagas. O problema era ele? Reparou nos perfis de outros amigos que já trabalhavam. Sérios, mas com certo equilíbrio entre o humor e o bom senso. Ainda sim, Mauricio não tirava da mente o receio de seu perfil estar o tempo todo a ser vigiado. Era uma espécie de câmera moral-empresarial invisível, pronta para flagrá-lo em qualquer deslize. Ele tinha que se cuidar.

Suspirou. Olhou novamente para seu perfil. Teve um estalo. “Estou postando demais! Vão pensar que sou viciado em mídias sociais! Nem toda empresa gosta disso!” Poderia ocultar os posts, mas, o mundo era pequeno. E se o futuro empregador for amigo de algum amigo seu e por acaso acabasse vendo? Pensou, por um momento, se não estava com paranoia. Sentia-se sufocado. Olhou para seu perfil. Então esse era o Maurício que agradaria as empresas: um bom-moço, português impecável, que se só interessava por assuntos relevantes à sociedade. Além de ser um sujeito sempre motivado na vida.

- Não. Esse cara não sou eu.  

Sentiu uma ponta de consternação. Antes era tão fácil. Não se preocupava. Não tinha tantos receios. Gostava de falar bobagens. Cada foto era apenas uma boa recordação. Já teria perdido algumas junto com o antigo computador se não estivessem ali. Valia a pena fazer todo aquele papel? Ah, falava um especialista de um vídeo que assistiu, as mídias sociais eram ótimas para firmar contatos profissionais. Mas, até quando frequentaria baladas, ficaria com pessoas, beberia todas, se vestiria como quisesse, e ia temer que tudo isso fosse publicado? “Ou sou como sou nas redes sociais, ou deixo como está, e aguento o tranco!”.

Optou pela segunda alternativa. Afinal, ele precisava trabalhar.

E assim, pelo Facebook, os amigos viam um Maurício diferente, mais culto. Pessoalmente, ainda continuava o mesmo, porém, mais discreto. Com o tempo, deixou de ser lembrado pelos amigos nas brincadeiras online, já que sabiam que ele iria ignorá-las. Fez contatos profissionais, mas não se sentia à vontade para conversar com eles, já que apareciam online poucas vezes e compartilhavam apenas notícias da área ou frases de autoajuda. Mesmo quando ele comentava, no máximo curtiam.

Até que certo dia, cansado, decidiu desativar a sua conta. Tinha preocupações demais com a imagem para manter algo que só a colocava em prova. Mas ficou receoso. E se postassem algo sobre ele, como iria saber? E os aniversários? E os eventos? E as vagas de emprego? E os contatos profissionais?

E contrariado, decidiu manter a conta. Mas era como se não fosse sua.

***

- Nada disso, filho, você não vai sair na rua com essa bermuda e essa camiseta! Vista essa camisa polo e a calça que eu te dei! Filho meu anda por ai bem arrumado!

- Mas mãe, essa camisa e essa calça me apertam demais! Não tem nada a ver comigo! E eu sempre uso essa bermuda e essa camiseta!

- Já disse! Quer que as pessoas comentem de você? Vão falar que você é maloqueiro, que não tem casa, que é vagabundo! Você quer isso?

- Não!

- Então se vista como eu estou mandando! Vai logo ou vai ficar para trás!

- Tá bom! – respondeu o menino, cabisbaixo, enquanto voltava para seu quarto. 

Danilo Moreira

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FOTO: http://temmasjacabou.blogspot.com.br/2012/04/falsos-moralistas.html (Google)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Antes e Depois - Intérpretes do programa Glub Glub



Olá!

Hoje a Sessão Antes e Depois vai falar de três intérpretes de um programa que marcou uma geração principalmente nos anos 1990.

Glub Glub, atração produzida pela TV Cultura de São Paulo entre 1991 e 1994 se passava no fundo do mar. Um casal de filhotes de peixes, Glub (Gisela Arantes – segundo o blog Furiosidade, Cecília Homem de Mello também interpretou-a em alguns episódios) e Glub (Carlos Mariano) encontravam-se em frente a uma televisão abandonada e que funcionava por meio de um peixe-elétrico. Os amigos dialogavam de maneira bem humorada sobre dilemas da infância enquanto assistiam a vários desenhos. O programa fugia da linha das animações norte-americanas e orientais que dominavam as programações da época, e exibia produções alternativas de países europeus como Alemanha, República Tcheca, Inglaterra, França e Bélgica. Chegaram a ser exibidos mais de 40 desenhos diferentes em 600 episódios do programa. Tempos depois, os peixinhos ganharam uma nova amiga: a carangueja Carol, interpretada por Andrea Pozzi. Na segunda versão do programa, em 2006, apenas os peixes participavam e a televisão exibia vídeos ecológicos.

Hoje iremos conhecer os três atores que deram vida aos personagens de Glub Glub.

Gisela Arantes


É atriz, diretora, cineasta, educadora e produtora cultural. Formou-se atriz pelo Teatro Célia Helena (1981) e em cinema pela Universidade Anhembi Morumbi (2008), além de outras especializações. Atuou em peças como “Àbaco” (1992), de Antonio Calloni, “Romeu e Julieta” (2002), de William Shakespeare e direção de Wiliam Pereira, e em peças de sua autoria como “Naufrago – A imagem do Azul” (1998/2000) e “Amor de todas as coisas e um pouquinho mais” (2001). Atuou em longas como Terra Estrangeira (1996), de Walter Salles e o “O Sétimo artesão” (1982), de Anna Muylaert. Comandou um programa pela Rádio América e participou de radionovelas na Eldorado. Na televisão, fez participações em episódios da série “Retrato Falado”, Telecurso 2000, e em especiais de Dercy Gonçalves na Tv Record.

Desde 1995, integra a Brasil Soka Gakai Internacional (BSGI), afiliada à SGI, ONG de filosofia humanista com sede no Japão e pertencente à ONU. Gisela atua em projetos voltados para a Educação, Cultura e Paz.

Também produziu exposições como “Eternos Tesouros do Japão”, no MASP em São Paulo, e ministrou oficinas de teatro e dramaturgia em entidades como o SESC e em instituições particulares. Dirige, desde 2009, a Umiharu, empresa que desenvolve projetos socioculturais voltados principalmente para crianças.

Carlos Mariano


Começou a atuar em 1978 em Jundiaí, interior de São Paulo, no Teatro Estudantil Rosa (TER). Mudou-se para a capital em 1986 em trabalhou em diversas produções. Atuou em alguns filmes como “A Inútil Morte da Sra Lira” (1989), “Contrastes” (1991) e “Chico Xavier” (2010). Na televisão, além de trabalhar por sete anos em Glub Glub durante a década de 1990, fez participações em produções como o câmeraman Cabrera do seriado “Minha Nada Mole Vida” (Tv Globo, 2006), o empresário Henrique Romeu Pinto nas esquetes de “Câmera-Café” (SBT, 2007-2008), e na versão brasileira de “Carrossel” (SBT, 2012), como o vilão Dedinho, que sequestra Maria Joaquina.  Atualmente, está em cartaz em São Paulo com a peça “Trair e Coçar e Só Começar”, comédia de Marcos Caruso, além de uma participação na série “Contos de Edgar”, produção de Fernando Meirelles, que começou a ser exibida nessa semana pelo canal pago Fox .

Andrea Pozzi


A atriz que viveu a carangueja Carol licenciou-se em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes Alcântara Machado, frequentou a Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, atuou ao lado de personalidades como Celso Frateschi, Cacá Rosset, Roberto Lage e Beth Lopes. Foi apresentadora na TV Cultura e fez participações em atrações da Globo. Atuou no longa “Contos de Lygia” (1998) de Del Rangel, ao lado de nomes como Gianfrancesco Guarnieri e Natália Timberg. Infelizmente a atriz nos deixou em 2005, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em Coimbra, Portugal, onde segundo as pesquisas morou nos últimos anos, trabalhando principalmente com teatro.    

Sentiu saudades do Glub Glub? Então assista a uma entrevista concedida na comemoração dos 20 anos do programa em 2011, no especial Cultura Retrô, com alguns trechos da época e muitas curiosidades. Vale a pena assistir. 




E por hoje é só. Espero que tenha gostado. Até a próxima!

Danilo Moreira

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Fontes: 

http://minilua.com/desenhos-antigos-glub-glub/
http://pt.goldenmap.com/Carlos_Mariano
http://caras.uol.com.br/noticia/atores-se-vestem-e-relembram-glub-glub-da-tv-cultura-carlos-mariano-gisela-arantes-cultura-retro#image0
http://nostalgiadatv.blogspot.com.br/2013/01/glub-glub-parte-1.html
http://www.umiharu.com.br/novo/gisela.php
http://jordanalimaduarte.blogspot.com.br/2011/06/entrevista-gisela-arantes-traz-os.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Mariano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Glub-Glub
http://caras.uol.com.br/noticia/atores-se-vestem-e-relembram-glub-glub-da-tv-cultura-carlos-mariano-gisela-arantes-cultura-retro#image0
http://cultureba.com/index.php?option=com_content&view=article&id=18491:ator-que-interpretou-peixinho-de-glub-glub-vira-bandido-de-carrossel&catid=34:novidades&Itemid=28
http://furiosidadeblog.blogspot.com.br/2013/01/como-estao-os-atores-de-glub-glub.html
http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/tag/contos-do-edgar/
http://atarde.uol.com.br/cultura/materias/1494241
http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/series-brasil/fox-international-prepara-series-nacionais/
http://www.antoniocalloni.com/curric04.htm
http://www.dgabc.com.br/News/90000231651/espetaculos-agitam-sao-paulo.aspx?ref=history
http://www.terra.com.br/cinema/festivais/curitiba_longas.htm
http://www.cenalusofona.pt/mem2003/eia.htm
http://sopadepedra.blogspot.com.br/2005/01/andrea-pozzi-1968-2005.html

Fotos: 

http://www.osmais.net/nostalgia/serie-desenhos-infantis-infancia-com-glub-glub/
http://superheroisemgeral.blogspot.com.br/2013/02/carlos-mariano.html
http://www.cenalusofona.pt/mem2003/eia.htm

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Armaduras na selva de pedra



São Paulo, 2004. Centro Cultural São Paulo.

O homem, parado na porta de vidro, esperava a abertura da biblioteca quando um rapaz de 19 anos, usando boné, camiseta, bermuda e um All Star azul, vinha com pressa pois achava estar atrasado. Agitado, aproximou-se dele e perguntou: 

- Amigo, por favor, que horas são?

O homem ficou sério, e me mediu de cima a baixo. 

- Cê tá louco? Acha que eu sou trouxa? – respondeu ele, cismado, se afastando de mim. 

Não entendi nada. Apenas queria saber quanto tempo faltava para abrir a biblioteca. Eu não tinha celular naquela época e estava sem relógio. Insisti dizendo que só queria saber as horas. Arrogante, mandou que eu ficasse longe dele. Depois é que eu entendi que o rapaz achou que eu queria assaltá-lo, mesmo eu estando visualmente “normal”. Aquilo me deixou impressionado. Eu sabia que usavam esse golpe, mas nunca imaginei que um dia pensariam isso de mim.

 ***
São Paulo, 2013. Avenida Paulista.

Hora do almoço. Caminhava pela calçada movimentada usando uma camiseta do U2, rumo ao Centro Cultural São Paulo para matar as saudades, e também fazer hora, já que tinha outro compromisso mais tarde. 

Perto de uma agência bancária, vi um jovem de terno e gravata me chamar com um estranho sorriso. “Com esse sorriso, deve ser vendedor”, pensei. E o dispensei com a mão. Ele apontou para mim, como se algo tivesse caído da minha mochila. Ignorando-o, segui meus passos, mas conferi os zíperes. Fechados. Aquele cara queria me levar na conversa. Ele continuou a me chamar, e eu, com fones de ouvido, seguia normalmente sem alterar o meu ritmo. E então aquele rapaz afobado passou a correr na minha direção, e ainda me chamava alto. No meu ouvido soavam guitarras do Capital Inicial, e mesmo assim conseguia ouvir os seus gritos: “Ei! Ei! Rapaz! Vem cá!”. Fiquei irritado mas não acelerei. O que ele queria com aquele escândalo todo, afinal? Achei estranho demais. Numa cidade violenta como São Paulo pode ser automático sentir esse receio, pois o “bote” pode vir de quem menos se espera. Me lembrei de uma antiga reportagem televisiva onde um grupo de senhores de termo e gravata batiam carteiras no Centro, em pleno horário de almoço. Comecei a pensar se esse não seria o interesse dele. 

O rapaz então me alcançou, tocou no meu ombro, ainda me chamando alto. Parecia ser muito importante. “Ou esse cara quer me vender alguma coisa e ficou puto porque o ignorei e que me empurrar algum produto a todo custo, ou realmente quer me dar o golpe.”, pensei. Desisti de ignorá-lo, e apreensivo, com o punho fechado, parei para lhe dar atenção. Ele tirou um dos fones que usava e pediu para por no meu ouvido.

- Pra quê? – perguntei.

- Vai, escuta! – disse ele, empolgado, querendo me mostrar alguma coisa.

Coloquei o seu fone olhando para os lados. No fone, uma música do U2, que eu sequer consegui identificar por conta da minha apreensão. Poderia ser o pretexto para me distrair e outro comparsa, quem sabe, iria naquele momento arrancar a mochila das minhas costas. Já tentaram me levar na conversa, ali perto, uma vez. 

- Muito legal essa camiseta do U2! Eu to louco pra comprar essa e não consigo achar de jeito nenhum! Comprou onde? – perguntou, ofegante, mas ainda sorridente.

- Eu comprei na Galeria do Rock na época que eles vieram, em 2011.

- Sério? Que legal. Eu estava lá. Mas eu queria muito comprar essa camiseta e não consegui encontrar mesmo.

- Compra na Galeria do Rock. Na época paguei 23 reais, se não me engano. Agora deve estar mais barata.

 - Beleza. – e estendeu a mão. – Muito obrigado, mesmo!

Respondi “de nada” e enquanto apertava rapidamente a sua mão. Nos despedimos cordialmente. Não sei se ele trabalhava naquele banco, mas tinha voltado para lá. Fui para o CCSP pensando no que ele realmente queria. Sim, pensei se ele era gay e estava usando a camiseta como pretexto para puxar conversa. Mas não aparentava. 

Fui embora pensando qual era a dele, mas impressionado com o meu estado de apreensão. Naquela ocasião, meio dia, avenida movimentada, não é comum, pelo menos aqui, alguém fazer o que ele fez. E eu, fechado em uma espécie de armadura, tratei-o de forma tão desconfiada e seca, que me recordei daquele homem em 2004, porém, importante destacar, não tão arrogante, mas igualmente cismado. 

Fico pensando no rumo que a sociedade está tomando por conta das suas mazelas. Mal se pode olhar para o próximo sem ter o mínimo de desconfiança, ainda mais se ele se encaixa nos estereótipos que essa mesma sociedade denominou para ser considerado um sujeito perigoso. Vizinhos olham vizinhos com desconfiança e hostilidade. Não se deixa os filhos nas ruas com medo da violência. Caminha-se depressa, sem olhar muito para os lados, ou olhando para todos os cantos. Olhos se sobressaltam se alguém mais agitado entra nos coletivos. Mãos suam e corações disparam se, na calada da noite, os ouvidos detectarem passos atrás de si. Mentes aos poucos adoecem nas paranoias. Parecem, mesmo que inconscientemente, se fecharem em uma armadura. O pior de tudo é que diante do quadro de segurança em São Paulo e em outras cidades do país, vejo que em boa parte dos casos, essa armadura é ainda a melhor alternativa, por enquanto...

Quase dez anos e alguns assaltos depois, a vida me tornou parecido com aquele homem receoso a quem tanto repudiei. Sinceramente, sinto pena e vergonha dos dois. E uma revolta por todos terem deixado as coisas chegarem a esse patamar que pode beirar o animalesco. 

Humanos se protegendo de humanos na mesma intensidade de presas e predadores. E acho que a coisa só tende a piorar.

Danilo Moreira

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FOTO: http://mulheresqueamamerrado.blogspot.com.br/2012/02/qual-o-medo-que-te-persegue.html 
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